sábado, 3 de outubro de 2009

Hidrato de gás



Em primeiro de maio de 2007, a China colheu, nas profundezas marítimas do Mar da China, suas primeiras amostras de hidrato de metano, segundo Zhang Hongtao, diretor adjunto do Escritório de Estudos Geológicos da China.
Conhecido pelo nome "gelo combustível", trata-se de um "composto" inflamável formado de gelo no interior do qual temos gases "presos", oriundos da decomposição de matérias orgânicas mais recentes do que aquelas que originam o gás natural ou o petróleo.
Em virtude das propriedades desse composto e das imensas reservas disponíveis em certos solos marinhos e pergelisolos (solos permanentemente gelados e absolutamente impermeáveis das regiões árticas, cuja estabilidade depende da forte pressão e baixa temperatura), esse composto é estudado como uma fonte potencial de energia alternativa ao carvão e ao petróleo, principalmente nos Estados Unidos, Japão e China, no âmbito de um programa de pesquisa iniciado há nove anos.
Pesquisadores brasileiros apresentaram trabalho sobre a utilização de hidrato de gás como energia alternativa. Comparado aos demais combustíveis fósseis, o hidrato de gás representa o maior recurso energético do planeta e produz mais energia gerando menos CO2, de acordo com dados reunidos pela geógrafa Claudia Xavier Machado (pesquisadora do Centro de Excelência em Pesquisa Sobre Armazenamento de Carbono-Cepac). As reservas de hidrato de gás estão amplamente distribuídas pela Terra. As condições para sua formação ocorrem, principalmente, nos oceanos, a profundidades maiores que 500 metros. A pesquisa mostrou que a formação e a estabilidade do composto dependem de três variáveis: concentração do gás, temperatura e pressão. O hidrato de gás tende a se formar em locais com quantidades suficientes de água e metano, temperatura baixa e pressão elevada.
A viabilidade comercial do composto como fonte de energia deve ser atingida quando o preço do metano do hidrato alcançar o do gás convencional. Segundo prevêem autores pesquisados por Machado, com a queda na produção de petróleo, a demanda por gás natural irá aumentar, tendendo à diminuição da oferta do produto e, consequentemente, ao aumento do preço. Ao mesmo tempo, o custo de produção do metano a partir dos hidratos irá diminuir gradualmente, devido ao desenvolvimento tecnológico. No entanto, Machado afirma que a questão é relativa. “Para países com grandes reservas de petróleo, pode não parecer tão emergencial investir massivamente em pesquisa nessa área, pelo menos por enquanto”, pondera.
“É difícil determinar com certeza o grau de desenvolvimento tecnológico que os países mais avançados na área já atingiram, principalmente, por se tratar de informação estratégica”, afirma Machado. De acordo com seu estudo, no cenário internacional, o principal programa de pesquisas sobre o composto foi criado no Japão, em 1999. O interesse seria devido à preocupação com a segurança energética do país. Já a Coréia do Sul lançou, em 2005, a primeira instituição de pesquisa e desenvolvimento em hidrato de gás e prevê, para 2015, a produção comercial do composto. Índia, Canadá, Estados Unidos, Rússia e China também estão entre os países que investem nas pesquisas sobre o hidrato de gás, tanto em iniciativas locais quanto em parcerias internacionais.
Machado avalia que são escassas as referências de pesquisas brasileiras sobre o composto. “Acredito que a falta de interesse no hidrato de gás, no Brasil, pode ser decorrente da tradição na produção de óleo e gás. Talvez esse fator tenha orientado os investimentos para pesquisas voltadas para a indústria do petróleo, não priorizando a busca e quantificação de ocorrências do hidrato de gás no Brasil e o desenvolvimento da tecnologia necessária para explorá-lo”, afirma. A geógrafa, contudo, cita estudos brasileiros voltados para caracterização, localização e quantificação de ocorrências do hidrato de gás. De acordo com esses trabalhos, a presença do composto já foi confirmada na foz do Amazonas e na bacia de Pelotas (RS). Acredita-se, ainda, que ocorra também nas bacias de Campos (RJ), Espírito Santo e Cumuruxatiba, no sul da Bahia.
O estudo também aponta que o risco de ocorrerem grandes liberações do metano pela dissociação do hidrato, revertendo seu papel para um “intensificador” do efeito estufa é, possivelmente, um dos grandes desafios envolvidos na sua produção. Machado explica que a própria exploração do metano poderia desencadear a dissociação de grandes quantidades de hidrato de gás. Em consequência, haveria desestabilização do fundo oceânico. “Isso pode causar deslizamentos submarinos, explosões por brusca desgaseificação, formação de tsunami e liberação de metano, aumentando a sua concentração na atmosfera”, completa a geógrafa. Para viabilizar a produção em escala comercial, é necessário o desenvolvimento de tecnologias capazes de evitar esse risco.
A partir das pesquisas levantadas ao longo do estudo, Machado avalia que o hidrato de gás ainda não entrou para a agenda de discussões sobre mudanças climáticas, apesar da sua importância como possível fonte de energia alternativa. O surgimento de novos estudos e publicações, no entanto, indicaria um aumento de interesse pelo assunto, segundo a geógrafa. “Acredito que com o desenvolvimento de novas pesquisas e, principalmente, com o início da produção comercial, o hidrato de gás passe a ser considerado questão de grande importância quando se trata de emissões de gases de efeito estufa”, finaliza.


Fonte:http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=3¬icia=561

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